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quinta-feira, 16 de julho de 2009

O TRATORISTA

Abaixo um poema que retrata o ocorrido no video o Tratorista versus a Propriedade Privada que esta postado neste blog ao lado esquerdo do seu monitor.
Abraços e o presente é de luta e o futuro a nós nos pertencerá!


O Tratorista

Sabia ele que almas ali aspiravam
E os nacos de nada
Constavam na sua panela como naquelas casas
Sete filhos
Sete malditos maltrapilhos ali respiravam
Tinha nove
A mesma cara de sanha
O mesmo semblante de fome
Mas não,
A ordem era clara
A propriedade,
Privada
Como a vida não de homens
Mas de velhos invasores gastos
Terríveis seres insolentes
Micróbios em plaqueta errada

Mas não,
A ordem era clara
Tu, o tratorista
Carrasco sem navalha
Apenas tu o trator
Apenas máquina
E no seu rastro barraco


Não casa
Mas invasores malditos em terra privada

Os gritos faziam coro
Com o rugir da máquina enfeitiçada
Contendo o romper do desespero
Outros homens e suas árias

Os olhos fitavam os seus
Através de lentes de lágrimas,
O trator não cessava a rugir
_Avança!
Gritava o dono d’alvorada

Tuas mãos agora rígidas
O manche não mais apertava
A realidade como farinha
Em sua garganta arranhava

_Não posso! Com os olhos
Fez que não
_Não posso, pois eles são eu
E eu num posso não

Como assim não podia?
A ordem era clara
Passa com a máquina por cima
Arrasa essa gente sem lavra


_Não posso! Saiu pelos dentes
Como quem baba pão
Não podia e a voz da polícia
Lhe dava voz de prisão

Era magro o negro
Em negra escravidão
Mas da senzala ascendia
E trator num tocava não

E teve início o dia
Numa manhã que não tarda a raiar
Nem tratorista arrasava barraco
Nem polícia podia forçar

O boné que na cabeça ostentava
Era ordinário como a história na mão
Cada calo uma verdade
Cada lágrima um samba-canção
Daniel Oliveira

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