O Governo Federal economizou R$ 370 milhões ao utilizar programas de software livre em suas instituições. O dado é da Pesquisa de Software Livre, feita em 2008 pelo Comitê de Implementação de Software Livre (CISL). O número é incompleto, pois apenas 62 instituições públicas, das 99 que utilizam programas de software livre responderam o questionário da pesquisa.
Software livre, ou software de código aberto, é qualquer programa de computador que pode ser usado, copiado, estudado, modificado e redistribuído de forma gratuita.
Em entrevista à Radioagência NP, o coordenador do CISL e presidente do Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro), vinculado ao Ministério da Fazenda, Marcos Vinícius Ferreira Mazoni, disse que a utilização deste tipo de produto, além de fazer com que o governo economize, gera um debate sobre sermos ou não agentes da evolução, aplicação e preservação de uma tecnologia nacional.
Radioagência NP: Os R$ 370 milhões economizados pelo governo já são expressivos, mas parece que este montante poderia ter sido maior ainda. Isso é certo?
Marcos Vinícius: Esse dado é extraído de um questionário colocado na rede, portanto, nós sabemos que muitas outras organizações, que também atuam com software livre, não tiveram engajamento no questionário. Então, são dados que ainda não temos. Mas como a nossa preocupação é mostrar aquilo que a gente possa provar, nós chegamos a esse número de R$ 370 milhões, contabilizando o que seria a compra de licenças para alguns projetos e a sua substituição por software de código aberto. Repito que é verdade que se todos os nossos planejamentos tivessem sido atingidos, nós teríamos um número maior. Mas o importante é que o nosso plano visa avançar com segurança, portanto, é certo que este número vai crescer daqui para frente.
RNP: Qual seria a economia caso todas as instituições públicas adotassem o software livre?
MV: O Brasil gasta algo em torno de US$ 1 bilhão por ano, com o pagamento de licenças. Se levarmos em conta que [apenas] o governo federal brasileiro corresponde a 55% desse mercado, então estamos falando de US$ 550 milhões gastos em licenças. É claro que nem tudo pode ser substituído por software livre, mas esse é o universo de licenças que são pagas pelo país, por isso fazemos esta simulação. Acho que se conseguíssemos substituir até 60% disso tudo por código aberto, já será algo fantástico.
RNP: Existe alguma resistência por parte dos órgãos públicos na utilização de software aberto? E, se sim, a que se deve essa resistência?
MV: Há resistência. Isso é algo natural. Não é algo forçado por empresários de software proprietário, por exemplo. É algo que simplesmente se deve ao conhecimento que as pessoas têm. Aquele usuário final da tecnologia da informação não é um ativista deste “mundo livre”. Ele é apenas um usuário, um simples trabalhador que precisa de seu conhecimento em tecnologia para trabalhar. Então, não é algo simples, quando o usuário sente que ele não domina a proposta que é feita de mudança de tecnologia, é natural que ele haja em direção ao que ele acha que é mais seguro. É por isso que muito mais importante do que convencer os nossos usuários finais a mudar de software, é estabelecermos condições de segurança para que ele realize este processo, para que isso ocorra sem nenhum prejuízo, mas sim com ganhos para esta pessoa.
RNP: A implantação do software livre pode ser uma alternativa contra a privatização do conhecimento e algo estratégico para o desenvolvimento de uma tecnologia nacional?
MV: A tomada de decisão sobre o uso de software sempre aparece para a sociedade na economia que se faz com seu uso. Na verdade, essa estratégia tem um outro cunho. Nós podemos manter os investimentos no mundo do software, mas não mais em royalties, e sim, pagando pessoas e conhecimento. O que estamos procurando são elementos que vão além, ou seja, que o Estado brasileiro e mesmo empresas privadas tenham controle sobre a evolução da tecnologia. Assim, eu não fico mais dependente daquele fornecedor de software que faz uma nova versão do seu produto. Com a atualização, o fornecedor decide qual produto vou usar, além de decidir se o investimento em minha infra-estrutura terá uma preservação [poderá continuar atualizado] de um, dois ou três anos. Investimento em software livre é uma garantia de sermos atores na decisão de como vamos lidar com essa tecnologia ao longo do tempo, isso é muito importante, isso é estratégico.
De São Paulo, da Radioagência NP, Juliano Domingues.
sexta-feira, 22 de maio de 2009
EM DEBATE: Economia com software livre
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