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quinta-feira, 24 de setembro de 2009

VIVA A RESISTENCIA DOS MOVIMENTOS SOCIAIS HONDURENHOS!

O princípio do fim?
Por: Atilio A. Boron*




Pagina 12 (Buenos Aires) Terça-feira, 22 de setembro de 2009
Zelaya já está em Tegucigalpa e sua entrada em Honduras, burlando as "medidas de segurança" instaladas ao largo da fronteira, deveria marcar o começo do fim do regime golpista. São várias as razões que fundamentam esta esperança.

Primeiro, porque os gorilas hondurenhos e seus instigadores e protetores nos Estados Unidos (principalmente no Comando Sul e no Departamento de Estado) subestimaram a massificação, a intensidade e a perseverança da resistência popular que, sem hesitações, manifestaria sua oposição ao golpe de Estado. Na realidade, tamanha rejeição não estava nos cálculos de ninguém, se nos detivermos na história contemporânea de Honduras. Mas o novo rumo decidido por Zelaya, sua positiva resposta frente às reivindicações populares há muito tempo adiadas, tiveram um efeito pedagógico impressionante e desencadearam uma reação popular inesperada pelos adversários e até para eles mesmos.

Segundo, o regime golpista demonstrou ser incapaz de romper um duplo isolamento. No flanco interno, ficou em evidência que sua base social de sustentação se reduzia à oligarquia e alguns grupos subordinados a sua hegemonia, incluindo os meios de comunicação dominados sem contrapeso pelo poder da capital. No flanco internacional o isolamento de Micheletti e de seu bando é quase absoluto: salvo pouquíssimas exceções toda América latina e o Caribe retiraram seus embaixadores, e o mesmo fizeram vários dos países mais relevantes da Europa. A própria OEA adotou uma linha dura contra o regime e, aos poucos, o único apoio externo com que contava o governo provinha dos Estados Unidos. Este, no entanto, seguiu uma trajetória declinante que foi se acentuando com o passar do tempo.

Terceiro, porque as ambíguas políticas do governo dos Estados Unidos -produto do jogo interno dentro da administração- que facilitaram a perpetração do golpe de Estado foram definindo-se em uma direção contrária aos interesses dos usurpadores. Se a rejeição inicial ao golpe manifestada por Obama foi logo atenuada e amornada pela sua antiga (e atual?) rival, a secretária de Estado Hillary Clinton, o caráter reacionário indissimulável de Micheletti e de seu entorno, assim como a interminável sucessão de grosserias e insultos dirigidos a Obama cada vez que a Casa Branca expressava alguma crítica a Tegucigalpa, foram criando uma atmosfera cada vez mais antagônica em relação aos golpistas.

Quarto e último, o regime instaurado em 28 de junho constitui uma séria dor de cabeça para Obama porque desmente enfaticamente suas promessas de fundar uma nova relação entre os Estados Unidos e os países do hemisfério. A continuidade do regime golpista faz com que Obama apareça como um político irresponsável e demagógico ou, ainda pior, como alguém incapaz de controlar o que fazem e dizem seus subordinados no Pentágono, o Comando Sul e o Departamento de Estado. E isto se relaciona com outro assunto sumamente importante e que excede o marco da política hemisférica: sua credibilidade na arena internacional. Ao mostrar sua impotência para controlar o que ocorre em seu "próprio quintal" os governantes de outros países -especialmente China, Rússia e Índia- têm razões para suspeitar se Obama será capaz de controlar aos setores mais belicistas e reacionários dos Estados Unidos, para os quais suas promessas de alentar o multilateralismo equivalem a uma capitulação incondicional frente aos seus odiados inimigos. Isto é particularmente grave no momento em que Obama está negociando com a Rússia um novo acordo para reduzir o arsenal nuclear de ambos os países. O fracasso deste acordo teria um custo econômico enorme sobre o orçamento público num momento em que esse dinheiro é necessário para acabar com os riscos de um aprofundamento da crise estourada em 2008. Mas para persuadir aos russos de que seu plano de redução de armamentos é viável tem primeiro que demonstrar que está no controle da situação e que seus falcões dentro do Pentágono não lhe quebrarão a mão. Cada dia que Micheletti permanece no poder equivale a mais um mês de difíceis conversações com Medvedev e Putin para convencê-los de que suas promessas se traduzirão em fatos. Porque se não pode controlar aos seus em Honduras, poderá fazê-lo quando se tratar de uma questão estratégica e vital para a segurança nacional dos Estados Unidos?

* Atílio Borón é Politólogo.

Texto original em espanhol em:
http://www.pagina12.com.ar/imprimir/diario/elmundo/subnotas/132209-42585-2009-09-22.html
(Tradução para o português de Roberta Moratori)

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